Nº 13 | DOMINGO, 08 DE OUTUBRO DE 2023 |
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Vendo as coisas do Brasil atual, lembrei de Maria Bonita, uma amiga muito querida, que me corrigiu quando falei do verdadeiro estado de anarquia que vive nosso país.
Ela, uma anarquista como Bakunin teorizou (de forma no mínimo apaixonante), lembrou-me que o que vivemos é outra coisa. Segundo ela, vivemos algo parecido com baderna e caos institucional, o que é muito diferente do olhar romântico dos verdadeiros anarquistas, que queriam abolir qualquer forma de opressão que, de forma indisfarçável, se aninha nos desenhos de Estado e de autoridade.
Não é, entretanto, nisso que quero me aprofundar hoje. É no ambiente de ANOMIA que se agrava e se generaliza no Brasil.
Sim, a palavra anomia é muito mais apropriada para descrever a degradação geral que corrói nossos brasílicos tristes tempos.
Por um lado, os problemas sociais estão se agravando e, por outro, a política, em sua resultante, está cada vez mais alienada e distante de ser aquilo a que se destina: a linguagem de solução, ou, no mínimo, de encaminhamento esperançoso das equações coletivas que justifiquem nossa identidade nacional e nossa hoje praticamente inexistente sensação de pertencimento a uma Nação.
Um doído exemplo: um médico, ainda muito jovem, torcedor do Bahia, vai a um congresso no Rio de Janeiro. Ao fim de uma jornada, segue para um quiosque em frente ao hotel, para tomar um chope, junto com outros três companheiros.
Do alçapão do terror nosso de todos os dias, surge uma malta de assassinos que desfere uma avalanche de tiros, captada nos 33 segundos mais silenciosos e trágicos de uma câmera noturna da Barra da Tijuca.
No final, ele e mais dois jazem mortos e o quarto vai ao hospital muito ferido. Menos de dois dias depois, quatro “suspeitos” deste atentado são encontrados mortos e a polícia vai “confirmando” sua tese, de que a chacina teria sido cometida “por engano”.
Segundo a investigação, o jovem médico baiano teria muita semelhança física com um líder de milícia marcado para morrer por outra gangue. Impossível não lembrar o óbvio: estas facções que dão as cartas em TODAS as cidades brasileiras, estão impunes há anos, comandando seu estado de terror particular.
A associação público privada mais bem sucedida, nos últimos anos, no nosso dramático Brasil. Enquanto isso, da Brasília política não vem notícia diferente daquelas das últimas semanas: Congresso “briga” com Supremo; Governo Federal corta verbas da Saúde e Educação; e Fazenda reserva valores recordes históricos para pagamento de juros e liberação de emendas para financiar a cleptocracia (do grego, governo de ladrões).
De novo, meu caro assinante, não se trata de otimismo ou pessimismo. Se o povo perde a crença na política, nenhuma democracia sobrevive! Ou alguém duvida de que este fenômeno é gravemente extenso entre nós hoje?
P.S. - Nesta edição, inauguramos a seção “Merece Aplauso” / “Merece Vaia”. A ideia é que ela seja sintética, específica e factual. Em escuta à opinião de nossos assinantes, ela vai buscar, também, momentos de interação. |
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SEGURANÇA PÚBLICA: MUITO PAPO FURADO E NENHUMA AÇÃO REAL – Parte 1
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A sensação de insegurança explode de forma muito diferente entre as diversas classes sociais. Talvez só isso explique porque o Governo Federal (estamos no QUINTO governo do PT) e a maioria dos governos estaduais não tomam uma decisão central de redesenhar as instituições, normas e orçamentos pertinentes ao tema.
Quando a avalanche de tragédias acumuladas os força a se mexer, ensaiam, como agora, um festival de “ boas intenções” mal costuradas, e rapidamente maquiadas, como o recém-lançado “Programa de Enfrentamento às Organizações Criminosas”, lançado com pompa e sem glória.
Em lugar de jogadas inócuas de marketing deveriam partir de uma premissa óbvia: tudo que está posto, simplesmente não funciona! Resta alguma dúvida?
Explico esta questão de classe: os ricos “privatizaram” sua relação com segurança, para si e para seus filhos, através de carros blindados, condomínios com segurança privada armada até os dentes, aparato tecnológico no estado da arte em câmeras, sensores, cercas eletrificadas, o escambau. Desistiram há muito de demandar do poder público providências. Podem pagar com os juros exorbitantes e as fabulosas franquias de impostos que conquistam dos governos, ou ir morar fora do País.
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O povão também desistiu de suplicar ao governo a proteção social a que tem direito proclamado na Constituição. Não acredita mais no poder do estado e, não é raro, hoje nas periferias se sente mais medo da polícia do que dos bandidos.
Vale a pena aprofundarmos o conhecimento deste sentimento porque, sem sua inteligência, não haverá qualquer eficácia possível numa nova e inadiável abordagem do dramático problema da violência e, especialmente, do DOMÍNIO do crime organizado sobre nosso território.
As famílias pobres são hoje vítimas de uma relação de dominação esquadrinhada no território (com guerras cíclicas de fronteira e acordos de “paz”), por uma espécie de baronato (à moda total da idade média na Europa).
Também sofrem com “relações exteriores” celebradas com os “agentes” da nação exterior, que é a grande farsa representada pelo Estado “oficial” brasileiro. O suborno é a linguagem “diplomática” principal destas “relações exteriores”, mas a intimidação e outras formas de “pacificação” também são usadas.
Ainda radiografando a atitude das maiorias populares “dominadas” em seus territórios: não é só o terror a linguagem dominante (desacatou a ordem dos chefões, das facções ou milícias, pena de morte!). Mais complicada é a linguagem do clientelismo e da “proteção” através dos quais buscam as organizações criminosas se legitimar, cultivando o “bem querer” do povo. O apoio das facções criminosas às comunidades prefere aqueles setores onde a falha dos governos é maior: renda, saúde, moradia, comida, “auxílio” a famílias com membros aprisionados, e por aí vai. Invariavelmente buscam também “cooperar” com as igrejas de todas as denominações, mas preferem as neopentecostais.
Assim, o povo desenvolveu uma forma “segura” (ainda que totalmente opressora e exploradora ) de conviver com o fenômeno. Importante ressaltar que ele não surgiu hoje e só alcançou esta extensão sufocante e generalizada com a absoluta conivência (por ação muitas vezes, e por omissão desde sempre) do poder político brasileiro. Este merecerá uma reflexão à parte. Sigamos no ponto central.
As famílias conhecem TODAS as estruturas e TODAS as pessoas que integram, território a território, estas organizações, menos seus verdadeiros chefes, que vivem nos bairros elegantes e não nas periferias. Conhecem, à força do terror, suas regras. E pagam de várias maneiras por elas.
Gostando ou não, procuram cumpri-las e, assim, serem reconhecidas como “fiéis” ou “leais”, condição para serem deixadas “em paz”. Dessa forma, desenvolvem a sensação de “segurança possível”. A chegada da polícia de “surpresa” e atirando pra todo lado, virou a “desestabilização”, indesejável em muitas ocasiões.
Falando em famílias, lembro que a polícia, especialmente a militar, tem famílias proletárias que a gentrificação (expulsão dos pobres das regiões mais nobres das cidades em direção à periferia) constrange a viver nos bairros pobres e favelas. O policial sai de casa para trabalhar e sua esposa ou marido e filhos ficam no bairro, sujeitos às “regras” já descritas.
Tamanha é a omissão dos governos (estamos no QUINTO governo do PT e de Lula), que deu tempo a estas organizações criminosas montar uma sofisticada estratégia de diversificação de fontes de financiamento, lavagem das imensas fortunas que movimentam, e, pasmem, inscreverem seus membros e representantes nos concursos para polícia, Ministério Público, Judiciário, Tribunais de Contas. E, nesta marcha de camuflagem do crime, financiam mandatos ou vão diretamente à conquista eleitoral, infiltrando-se profundamente na política.
O principal vetor de financiamento seguem sendo as drogas, mas o contrabando de armas, a pirataria de tv a cabo, a grilagem de áreas públicas e a criação de um mercado imobiliário clandestino, distribuição de gás, transporte coletivo concedido pelo poder público ou transportes alternativos tipo vans, postos de gasolina e venda de “proteção” na segurança privada, e, até, igrejas falsas, são “negócios” que se generalizaram em setores que usam dinheiro em espécie em grande volume. Enquanto isso, NENHUMA lei ou instituição nova foi criada, ou sequer adaptada, para fazer frente à sofisticação obtida com a total complacência das “autoridades”. Mais uma gravíssima falha da democracia eleitoral que temos!
Claro que esta “segurança do terror” não elimina a queixa dos pobres, especialmente das mulheres, com relação a este estado de coisas. Elas temem que aconteça com seus filhos o que estão vendo acontecer todo dia com os filhos de suas vizinhas: bombardeados pelo apelo consumista, os jovens só vêm na adesão à distribuição de drogas o caminho para ganharem um dinheirinho para o tênis, o celular ou o video game e a roupa de marca. Dali, o caminho sem volta: dependência química, guerra de facções, prisão de bagrinhos, morte!
A evidência do absurdo pode ser dada pela interpretação de um número irrespondível: quando Lula tomou posse do primeiro mandato em 2003, o Brasil tinha pouco mais de 220 mil pessoas recolhidas aos presídios.
Hoje, se contarmos os mandados de prisão em aberto, são mais de 1 milhão de pessoas! Enquanto a população cresce a 1,7% ao ano, as prisões crescem a quase 7% ao ano, e a violência e o medo só pioraram de lá para cá!
Lula, enquanto faz a empulhação da retórica de esquerda para seu gado, copiou a legislação norte-americana de “guerra contra as drogas” em 2006 (lei No 11.343) e, por isso, meteu na cadeia mais de 500 mil jovens, quase todos pretos ou pardos, todos pobres, quase todos sem o cometimento de qualquer violência no seu primeiro evento prisional, todos viventes nas periferias.
O itinerário é mais que óbvio, chocante: pegos portando minúsculas quantidades de drogas como “aviões” do tráfico, sem cometer nenhuma violência, os jovens são levados às prisões. Ali, na primeira noite, ou se filiam a uma facção criminosa ou serão seviciados ou mortos. E a partir daí o exército da violência mais pesada tem mais um soldado.
Sim, ao longo dos últimos 20 anos nossos presídios foram dominados pelas facções criminosas e transformados em universidades do crime. Para 1 milhão de condenados à cadeia, o Brasil tem “apenas” 596,1 mil vagas para presos, ou seja, faltam vagas para 236 mil condenados!
Com muita vontade de colaborar neste debate castrado, voltarei ao assunto, me comprometendo para além do diagnóstico, pesquisar sugestões de providências práticas.
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A DESMORALIZAÇÃO DAS CPI’S
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O QUINTO mandato do PT, demonstrando a contradição política profunda e o notório erro de engenharia da sua constituição original, começa com a inusual instalação de pelo menos quatro CPI’s.
Isso foge por completo à regra clássica, de que elas normalmente só aconteçam, em fim de governo, ou em meio a crises políticas graves.
Os temas das recentes CPIs não interessavam ao governo, o que permitiu engrossar, logo na partida, a pedagogia da chantagem.
Ela é regida pela lei fundamental deste cruel mercado do blackmail: quanto mais se sente pressionado, mais Lula loteia cargos, e distribui emendas para cevar a corrupção dos chantagistas.
Na novilíngua da esquerda fake brasileira, liderada pelo PT e aperfeiçoada por socialistas da liberdade e outros puxadinhos, a fisiologia, o medo da devassa na corrupção e o continuísmo no poder a qualquer preço, tomaram o nome de “governabilidade”.
Muito ruim para o Brasil. Trágico, muito trágico, para todos os brasileiros.
A primeira vítima deste fenômeno é o fracasso e a desmoralização das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI ou CPMI), uma das mais importantes contribuições que o parlamento pode dar à sociedade, seja no exercício de sua tarefa de fiscalização e controle das instituições do executivo ou do judiciário, seja na discussão de assuntos em que haja interesse estratégico para o povo. |
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Foi uma CPI que permitiu ao País desvendar a corrupção de Collor, levando à sua cassação. Foi uma CPI que desvendou a corrupção generalizada do PT no escândalo do mensalão. Mas foi também uma importantíssima CPI que nos deu o último estudo sério sobre a extensão do atraso tecnológico do Brasil, demonstrando quão importantes podem ser e foram, as CPI’s para o Brasil. Pois bem, parece que estes tempos também foram embora no contexto de degradação geral de nossos costumes políticos.
Impressiona-me a desmoralização de TODAS as CPI’s que foram propostas recentemente: as CPI’s do MST, do 08 de janeiro, das ONG’s e das Lojas Americanas.
A CPI do MST foi convocada por puro oportunismo da ultradireita bolsonarista, na sequência de um conjunto de besteiras que o movimento dos sem-terra produziu, inclusive invadindo uma área pública da EMBRAPA, ou seja, uma fazenda onde uma empresa estatal desenvolve pesquisas quem são a mais importante explicação para o êxito de nossa agricultura, inclusive a familiar.
O exército de Stédile passou os quatro anos de Bolsonaro acovardado e inerte, e resolveu acordar agora que um governo autorreferido de esquerda está no poder. Mas já botou a viola no saco de novo porque o peleguismo lulopetista é quem o controla.
Resultado desta mesquinha CPI: para tentar evitá-la, Lula torrou bilhões de reais em liberação de emendas e loteou parte do governo com indicados pelas viúvas de Bolsonaro.
O indiciado por contrabando de madeira na Amazônia, ex-ministro Ricardo Sales, foi o relator da CPI e pediu o indiciamento de um bocado de gente, mas, passado o espetáculo ao qual infelizmente nossa mídia dá total atenção, a CPI foi encerrada sem sequer votar um relatório. Deu em nada!
A CPI das ONG’s, em andamento no Senado, que tem seu prazo de validade a ser encerrado no próximo dia 23 de outubro, se propôs a examinar a liberação de recursos pelo Governo Federal, e também de dinheiros vindos do estrangeiro para organizações não governamentais e OSCIPS (Organização da Sociedade Civil sede Interesse Público), entre 2002 e 2023.
De novo, é a extrema direita quem toma a iniciativa à qual adere a maioria dos parlamentares. E, mais uma vez, a motivação subalterna se repetiu, ao criar, por baixo da mesa, instrumentos de chantagem para obter “favores” do governo em dinheiro e cargos.
Por cima da mesa, um assunto para lá de sério e complexo a merecer severa e equilibrada investigação.
Porque – corretamente ou não – boa parte de nosso povo, especialmente na Amazônia, desconfia de que em meio a bem-intencionadas instituições na área, poderiam estar atuando, de forma criminosa, sejam serviços de inteligência estrangeiros, sejam interesses empresariais em biopirataria.
Um reforço da tese clássica da “internacionalização” da Amazônia, dado que o “Estado brasileiro não vem se revelando capaz de dar a este delicado bioma a devida proteção ou gestão”.
Só um esforço profissional, equilibrado, severo e justo, poderia separar o joio do trigo neste assunto tão espinhoso e interditado por preconceitos.
Sim, porque quem questiona -ainda que por justa dúvida- a atuação de ONG’s em nosso território, logo é suspeitamente tachado de extrema direita, ou coisas piores.
Mas, pelo andar até aqui da carruagem, não parece ser esta a direção que estão tomando os trabalhos da CPI das ONG’s. Como a CPI ainda tem mais 16 dias, se não for prorrogada, pode ser que eu, com muita satisfação, “morda a língua” e tenha que me desdizer.
Escândalo dos escândalos é a CPI das Lojas Americanas. O assinante já sabe, esta CPI terminou com um relatório que é uma pérola de cinismo e irresponsabilidade, se não de achaque e suborno.
Pela primeira vez na história da delinquência mundial se descrevem crimes grosseiros e de grave extensão, sem a existência de criminosos! Esta, em resumo, a síntese do relatório da CPI das Americanas, já encerrada.
Aqui a chantagem não se direcionou propriamente ao governo, embora Lula não tenha dado uma palavra sequer em relação ao maior escândalo da história do capitalismo à brasileira, mesmo sendo o responsável direto pelo menos por duas agências públicas responsáveis por apurar e punir os variados crimes envolvidos neste gigantesco caso totalmente escamoteado na grande mídia: a polícia federal e a comissão de valores mobiliários (CVM).
O alvo do achaque e da chantagem aqui são os “donos” das Lojas Americanas. Obtiveram TUDO o que queriam: nem sequer foram convocados para esclarecimentos, ainda que como testemunhas e, portanto, ficaram muito longe de qualquer indiciamento. Para não deixar os poderosos barões sozinhos na impunidade, passaram o recibo de “inocentes” para todo mundo logo!
Enquanto isso, 150 mil acionistas minoritários tiveram seus patrimônios reduzidos a pó; cerca de 9,8 mil fornecedores pequenos, médios e grandes foram caloteados, e muitos correm risco sério de falir; mais de 42 mil trabalhadores estão com a vida arruinada porque a onda de demissões já alcançou quase 3 mil deles e ninguém sabe quem será o próximo.
Com isso, o mercado de capitais no Brasil sofreu um golpe mortal em sua credibilidade, o que está na base da maior fuga de capitais estrangeiros aplicados em bolsa da história recente do Brasil (trataremos deste aspecto em tópico próprio).
Mas nada sensibilizou os senhores parlamentares. E a dita CPI se transformou em uma das mais vexaminosas vergonhas da história já pouco honrosa do parlamento brasileiro, em tempos de Eduardo Cunha e Arthur Lira.
A CPMI do infame 08 de janeiro foi criada para investigar os atos de ação e omissão ocorridos em 08 de janeiro de 2023, nas sedes dos três poderes da República, em Brasília. Se não for prorrogada, ela tem até o dia 20 de novembro próximo para concluir seus trabalhos. Concedamos aos senhores senadores e deputados o crédito de que tudo pode mudar, portanto. Mas esta newsletter já vem advertindo a seus assinantes de que, do jeito que as coisas estão indo, os “acordinhos” em direção ao grande acordão de impunidade já estão em marcha batida!
Aqui os não iniciados nas “tretas” políticas brasileiras não estão entendendo nada desde o começo: quem notoriamente promoveu os atos de vandalismo, com clara motivação golpista, foram os militantes extremados do Bolsonarismo civis e fardados! Ninguém contesta ou duvida disto.
Pois bem, quem pediu e insistiu inicialmente para a criação da CPI foram os… bolsonaristas! E os “democratas” - em tese vítimas do “golpe” e das depredações- liderados por Lula, pelo PT e toda a sua tropa de choque, partiram para cima dos parlamentares, com todas as suas ferramentas de “persuasão”, para… impedir a CPI de se instalar! Esquisito, né não, meu caro assinante?
Bem, para você que é assíduo neste newsletter, a explicação já foi dada: os bolsonaristas tinham a informação de que as agências de inteligência do governo Lula sabiam de toda a movimentação dos “golpistas” com razoável antecedência, e que o governo teria resolvido "deixar acontecer" para explorar – o que fizeram com grande êxito - as naturais consequências políticas de tão estapafúrdia ação do bolsonarismo boçal.
Já à direita “golpista”, habilmente - o que é muito raro como atributo num bolsonarista, mas muito comum no jogo de esconde-esconde da parte podre da elite brasileira - que poderia jogar um jogo de empate, ou seja, de impunidade geral de lado a lado. Claro que, como sempre, ambos os lados deste jogo sujo têm que entregar alguns peixes pequenos à sanha popular pela punição de tanta irresponsabilidade.
A grande mídia cuida, por ingenuidade ou a mais pura malícia, de aperfeiçoar o jogo macabro. Lula queima o general Gonçalves Dias na primeira hora, dana-se a liberar muitos BILHÕES de reais e uma montanha de “empregos”, num patrimonialismo tacanho e vil que, quando testemunhado numa prefeitura do interior do Nordeste ou, ainda ontem com as mesmas práticas e os mesmos personagens, durante o governo- Bolsonaro, é símbolo de atraso, corrupção e maus costumes políticos, herdados do passado.
Isso para quem acha que nosso povo se constitui de uma manada de imbecis.
Bem, a julgar por pesquisas recentes, metade de nosso povo se divide, em meio a meio perigosíssimo, como gados lulopetistas ou bolsonaristas (embora a outra metade pareça estar apenas obrigada, com muita tristeza e às vezes alguma revolta, a escolher o menos ruim). E não se pode deixar de lembrar, por disciplina, que o modelo econômico em vigor é RIGOROSAMENTE o mesmo, com os dois.
Voltando à CPI, o que se temia, parece estar acontecendo. Com rigor e celeridade, como devia ser sempre para todas as causas, já tivemos condenados definitivamente, com penas bem salgadas, uma porção de peixes pequenos. Mas nenhum empresário financiador ou militar graduado até aqui.
O único militar graduado preso foi o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e, assim mesmo, por causa da falsificação do atestado de vacina. E teve sua prisão relaxada quando fez uma delação premiada sobre outro assunto, este relativo ao dia 08 de janeiro.
Espetáculos patéticos à parte (senti vergonha de ser brasileiro imaginando o noticiário internacional reproduzindo o patético depoimento do general Heleno na CPI), tudo caminha para o que os bastidores parecem ter acordado: punição para os bagrinhos; impunidade para os grandes que executaram, financiaram e planejaram os atos de vandalismo; e, também, para os oportunistas e irresponsáveis, que não tomaram as providências que estavam obrigados a tomar.
O rescaldo deste conjunto da obra é a desmoralização das CPI’s e a sociedade brasileira perdendo mais um de seus raros instrumentos de se defender de abusos do poder. De qualquer deles!
É assim que as democracias vão morrendo, pois o parlamento é a sede do poder popular, e santuário maior da democracia. |
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TURBULÊNCIAS NA ECONOMIA: AMOSTRA GRÁTIS DA INCONSISTÊNCIA DO MODELO – Parte 1
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Não queremos aprender, mas o sintoma mais arisco da inconsistência de nosso modelo econômico é a volatilidade da taxa de câmbio. Ou seja, quantos reais se precisa para comprar um dólar ou seu equivalente em bens e serviços oriundos do estrangeiro.
No limite, é praticamente impossível se fazer um “business plan” empresarial, a médio e longo prazos, se meus cálculos em dólar (contabilidade internacional) sofrem variações (quase sempre para cima, mas algumas vezes para baixo), de até mais de 6% em um único trimestre. |
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Sem esquecer as cíclicas desvalorizações pesadas, como aquelas promovidas por FHC e por Dilma, não por coincidência, logo após suas respectivas reeleições. Esta porcentagem, para ficar em uma comparação dolorosa, tende a ser o lucro médio anual de uma empresa em ambiente de concorrência capitalista.
Não resisto à tentação de repetir uma explicação popular para a centralidade do assunto na vida cotidiana de todos, ainda que seja a de um trabalhador pobre da periferia, a quem a vida nunca deu a oportunidade, sequer, de saber como é uma cédula de dólar.
É que, destruída nossa indústria nacional e desnacionalizada boa parte de serviços essenciais, tipo resseguros ou fretes, TUDO entre nós, mesmo sendo cobrado em reais, tem seu verdadeiro preço cotado em dólares.
Sabe como é, o povo não compra dólar, mas come pão e compra remédio. Como pão é feito de trigo e remédio de química fina, ambos importados do estrangeiro, subiu o dólar, sobe o preço do pão e do remédio, pois tudo o que vem do estrangeiro só pode (pelo menos por enquanto) ser pago com dólares, hoje ainda a única moeda de curso global. Pois bem, se houvesse uma política econômica preocupada minimamente com nosso desenvolvimento, e não completamente rendida à especulação financeira, o nosso modelo econômico teria que produzir (e há muitas alternativas) uma ferramenta para prevenir e remediar esta volatilidade. A China sabe fazer, e isto é uma das principais razões de seu extraordinário experimento desenvolvimentista. A Coreia do Sul também sabe. Faço questão de acrescentar o exemplo sul-coreano, para não confundir o argumento com “comunismo” (aqui caberia um emoji com uma grande gargalhada).
A dependência à volatilidade do dólar é uma variável estrutural que, entre outras, proíbe nosso país de se desenvolver.
Trata-se de uma centralidade “pétrea” do modelo econômico urdido precariamente por Fernando Henrique Cardoso e repetido exatamente o mesmo, “com casca e tudo”, pelo PT em seus CINCO governos. E, recentemente, igualmente continuado, de forma medíocre, pelo pretenso “outsider“ Bolsonaro.
Só um ambiente de debate sobre as bases de um novo modelo econômico comprometido com o desenvolvimento nacional, e com a superação da miséria e da desigualdade, poderia oferecer alternativas a este garrote vil que impede nosso crescimento.
Entretanto, efeitos de curto prazo já deverão ser sentidos, por nós brasileiros, como consequência desta volatilidade. Basta dizer que, em julho, a taxa de câmbio estava a R$ 4,80, e nesta semana fechou em R$ 5,16!
Entendamos primeiro porque isto está acontecendo. A principal causa é a diminuição da diferença de remuneração entre os juros brasileiros e os juros norte-americanos. Aqui os juros nominais estão caindo e lá os juros (especialmente os futuros) estão em alta recorde (não percamos tempo agora de lembrar a tragédia crônica dos nossos juros).
O que interessa aqui é lembrar que, de novo, como erro grave de modelo, nosso câmbio “flutuante” é contaminado, pelo governo, através da taxa de juros exorbitante em padrão internacional. Funciona assim: a taxa de câmbio ideal deveria ser resultado da saúde (e em sua proporção) de nossas contas com o estrangeiro, vale repetir, da conta em dólar. Sobraram dólares, nossa moeda se valorizaria de forma sadia; faltaram dólares, nossa moeda se desvalorizaria de forma sadia (ainda que dolorida). É como, em teoria, funciona o tal dogmático câmbio flutuante aqui adotado. Mas, como quase tudo entre nós, isto é mal estudado. E muito, mas muito mesmo, escandalosamente fraudado.
Sem querer ser tecnocrático, destaco as principais contas com o estrangeiro de onde se apuram os saldos para saber se o dólar vai faltar e seu preço subir, ou se vai “sobrar” e seu preço baixar.
Todo mundo sabe da balança comercial. O saldo entre o que o Brasil importa e o que exporta em mercadorias. Que por sinal está indo muito bem, já que estamos batendo recordes de valores positivos.
Mas ATENÇÃO: estes saldos recordes se devem, principalmente, aos preços conjunturalmente altos de nossas commodities (produtos primários sem agregação nenhuma de valor) e a uma pesada queda nas importações (sinal eloquente de estagnação econômica).
Há também, nesta conta, o saldo nas compras e vendas de serviços (fretes, seguros, royalties por exemplo) e outras contas setoriais, tipo balança de rendas, conta de capital e conta financeira.
Para fins de entendimento do argumento, o que importa é se no final das contas, sobram ou faltam dólares. Isto se chama de balanço de pagamentos e saldo em transações correntes. Vai desculpando certo economês aí, meu caro assinante. Mas nós precisamos ajudar as pessoas a entender esta coisa toda, já que a grande mídia não vai nos ajudar nesta tarefa.
Afinal, aqui é o território da especulação, do SWAP, da informação privilegiada, tudo protegido e blindado pelo novo estatuto de autonomia do Banco Central, imposto por Bolsonaro/Guedes e mantido na sua integralidade por Lula.
Vamos seguir entendendo o assunto na sequência desta newsletter. |
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CAMPEÕES MUNDIAIS DE DESIGUALDADE
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O banco suíço UBS lançou o relatório Global Wealth Report 2023 que vem a ser um circunstanciado relatório sobre a distribuição de riquezas no planeta, país por país. Adivinhem quem ganhou a medalha de “ouro” e subiu ao pódio de primeiro lugar do mundo, em concentração de riqueza e desigualdade social?
Errou feio quem apostou em um lugar de estrutura tribal, em guerra civil em algum ponto pobre e remoto do planeta, ou quem citou algum destes sultanatos pan-árabes. Vergonha, vergonha! Simplesmente deu Brasil na cabeça!
Entre nós, no QUINTO governo de Lula e do PT, o 1% mais rico já acumulam 48,4% de toda a renda do Brasil.
E, enquanto no mundo, a quantidade de milionários se reduziu, no Brasil entre 2021 e 2022, a quantidade de milionários quase DOBROU, nos dando o título de país que mais milionários criou no período, NO MUNDO!
Um dado mais que sintomático: tínhamos 293 mil pessoas com patrimônio maior que U$ 1 milhão de dólares e passamos a ter 413 mil, em 2022. Pouco importa se estes últimos números apurados cubram o hiato não lulista. Pois os reflexos vêm de longe.
As causas ancestrais: deseducação e falta de acesso à terra. Causas contemporâneas: salário-mínimo menor das Américas (só ganhamos da trágica Venezuela) e sistema tributário mais regressivo do mundo!
Vamos cair na real? Políticas sociais compensatórias não têm – nem de longe – a condição de mudar esta triste realidade! Enquanto isso, resta a trágica e irônica situação de sermos um país que, ao perder o gostinho de ser campeão do mundo em qualquer coisa, passamos a ocupar o primeiro lugar no infamante pódio da miséria e da desigualdade. |
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MAIS UM TRÁGICO E ESTRANHO CAPÍTULO DE UMA GUERRA SEM FIM |
A invasão de Israel pelo Hamas – grupo palestino que considera a ação armada a única saída para sua luta ancestral por independência e território- não tem muita chance de sucesso, se o objetivo é este.
A diferença nas condições objetivas do confronto é abissal! E o apoio incondicional do Ocidente a Israel, liderado pelos norte-americanos, carimba a derrota, por antecipação, do povo Palestino, em mais esta tentativa desesperada.
O custo em vidas e em sofrimento de lado a lado tem que achar uma caminho para seu fim. E aqui começa minha total estranheza, com determinadas primeiras impressões, deste novo calor no conflito que remonta a 1948, quando a descolonização promovida pelas potências vitoriosas na segunda guerra mundial foi homologada pela ONU recém-nascida, dando a Israel seu território original, depois expandido por ações militares, o que deixou a nação palestina sem território.
De lá para cá, a humanidade nunca conseguiu uma equação que resolvesse a situação .Muitas entidades palestinas variaram historicamente seus métodos, que vão da desesperada violência (como agora com o Hamas) até a diplomacia e a luta política, como foi, por exemplo, o itinerário da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) de seu famoso líder, morto em condições estranhas, Yasser Arafat. Como também a mais recente “autoridade palestina” derivada da desmoralizada Al Fatah.
Esta etapa do conflito parece ser a mais consistente iniciativa militar até aqui. O governo decadente de Benjamin Netanyahu fala em “surpresa”. Desconfio muito do fato de que os mais sofisticados serviços de inteligência militar ou civil, em que se destaca o famoso Mossad, não tenham sido capazes de “saber” de uma operação tão complexa e articulada, que conseguiu atacar simultaneamente mais de 25 cidades no território de Israel, usando até parapentes e motocicletas.
Pergunto se esta “incapacidade” de se prevenir do ataque não seria uma jogada conveniente à ultradireita israelense sobre quem Netanyahu se sustenta.
Vamos orar para que os filhos de Abrahão (os dois lados cultivam a mesma crença que os afirma descendentes de Cam e de Sem, irmãos, filhos de Noé) achem os caminhos da paz e do dialogo. Chamar o Hamas de terroristas, como fez Lula, é desconhecer como os heróis israelitas conquistaram seu território.
Que Celso Amorim fale a Lula sobre a luta sofrida de Ben Gurion e de Golda Meir, e quais foram seus métodos quando a prepotência colonial do ocidente sufocava seu sonho justo e ancestral de achar um território, para eles e sua gente. |
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1. Aconteceram eleições para os conselhos tutelares, que são aquelas instituições encarregadas de “garantir” os direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil. São eles os encarregados de atender queixas, reclamações e pedidos feitos por crianças, adolescentes, famílias e os cidadãos em geral, diz o Google. Mas além de ouvir e aconselhar, os conselhos tutelares são encarregados também de aplicar as medidas protetivas, e são vetor institucional de formação e planejamento das políticas públicas para as crianças e adolescentes nos municípios. A guerra foi grande nas periferias do Brasil enquanto nós outros, da classe média, não parecemos dar nem bola para o assunto. O corte de classe no Brasil está mesmo se aprofundando e talvez o fosso já seja intransponível. A natureza da guerra nestas eleições teve a característica da guerra cultural entre os extremismos morais-religiosos da direita, e o identitarismo vesgo que teve mais um momento “áureo”, em um vídeo viralizado de uma dança e música de péssimo gosto, ritualizadas em um ato oficial do Ministério da Saúde. Para onde esta gente pensa que está levando nosso povo?
2. O Comandante Robinson Farinazzo da plataforma canal "Arte da Guerra", um brasileiro patriota no mais nobre significado da palavra, chama a atenção para um “acordo” obscuro que a SIATT anunciou ter feito com o Grupo EDGE dos Emirados Árabes Unidos. Uma transação comercial entre partes privadas que, em tese, não deveria chamar atenção maior de ninguém. "Só que não", diria meu caçula Gael. A SIATT é uma empresa especializada na integração de sistemas de alto teor tecnológico, que fornece soluções para demandas dos setores de Defesa e AEROESPACIAL! Vejam, é restinho de indústria do complexo industrial da defesa, e, simplesmente, é quem fornece armamentos inteligentes tais como MÍSSEIS, BOMBAS GUIADAS, INTEGRAÇÃO DE ARMAMENTOS INTELIGENTES A PLATAFORMAS PARA AERONAVES, CARROS DE COMBATE, NAVIOS E VIATURAS TERRESTRES. Ela também trabalha com radares e sensores, sistemas e equipamentos aviônicos, e subsistemas e equipamentos para SATÉLITES e VEÍCULOS LANÇADORES DE SATÉLITE. Ninguém conhece o teor do tal acordo. No campo de armamentos de ponta - definitivamente este caso - NINGUÉM sai do outro lado do mundo para fins beneméritos, como os árabes dos Emirados estão fazendo, ao provavelmente engolir nossa SIATT. Só o projeto MANSUP – Míssil Anti-navio de lançamento de superfície – cujo desenvolvimento custou mais de U$ 100 milhões de dólares, se bem acompanhados pelo governo (Forças Armadas), salvariam nossa empresa brasileira, altamente sensível (DEFESA, senhores!!!!!!!), de ter que se vender a estrangeiros. Veja lá se os americanos aceitariam que o capital estrangeiro controlasse a Boeing, a Lockheed Martin e a Raytheon, coração de sua indústria de defesa e de tecnologias sensíveis! Alguém imagina se a Rússia deixaria a Kalashnikov tomar este caminho? Agradeço ao Comandante Farinazzo o alerta. Desgoverno geral: enquanto falam em reindustrialização do País, assistem apalermados à destruição e entrega ao estrangeiro do pouco que nos resta como o caso da AVIBRAS e agora este da SIATT.
3. A propósito da desindustrialização, esta semana o Grupo siderúrgico Gerdau anunciou o fechamento de duas unidades no Ceará. Não quero jamais deixar meu amor provinciano interferir no equilíbrio e isenção com que este newsletter analisa os fatos do Brasil, mas esta indústria estava no Ceará, assim como o grupo Guararapes de confecções, que também fechou suas portas, há mais de 40 anos! Do IBGE vêm os números: a indústria brasileira está estagnada e o descalabro local, no Estado (governado pelo PT pelo terceiro mandato) que mais aceleradamente se modernizava no Brasil, faz ele ocupar, hoje, o ÚLTIMO LUGAR do BRASIL em decadência industrial. O PIB da indústria no Ceará encolheu bárbaros 6,5% em apenas doze meses.
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1. Atletas da ginástica artística brasileira que fizeram bonito nessa semana. Esporte é fundamental e não deveria ser usado como moeda de troca com o que não presta na política brasileira. |
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1. Absurdo o ataque do gabinete do ódio petista ao jornalista Glenn Greenwald, que tem mostrado de forma crua a hipocrisia dessa turma que só pensa em poder pelo poder. Minha solidariedade, Glenn, o Brasil e o mundo devem muito a você! |
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